Há exatos 14 (quatorze) dias, depois de um dia intenso, confuso e triste, me trouxeram para o Espaço Nelson Pires – mais uma vez – já que em 2009, por outra circunstância, eu também estive aqui.
Essas minhas andanças de internações começaram após a morte de minha mãe. Antes, quando eu os tinha, meus momentos de tristeza eram sanados com seu afeto, amor, dedicação e fé.
Não direi que é bom ser internada, muito pelo contrário, o nosso maior bem – a liberdade – fica ceifada adoece a nossa alma e nos faz pensar que nada valemos. Por outro lado, aqui é um lugar onde aprendemos a conviver conosco de uma maneira ímpar, olhar para o lado e perceber que pessoas com problemas semelhantes, piores ou melhores aqui também se encontram, traz certo conforto, de pensar que não estamos sozinhos na caminhada.
Descobri que existem pessoas muito sábias internadas aqui, sábias na fé, sábias em conviver com seus semelhantes, sábias em dividir o que aqui é ofertado. Em 2009, fiquei muito mais abalada com a internação, talvez porque tivesse sido a primeira, recebi visita dos meus familiares e isso me confortou.
Desta vez, apesar de ter sido detida por toda madrugada, no outro dia, entreguei minha vida a Deus e parecia já estar adivinhando que seria completamente abandonada pela minha família, meus irmãos que eu sempre imaginei que gostassem de mim e me admirassem pelo ser humano que sou, não me ligaram e nem me visitaram nesses 14 dias, acredito que não exista motivo ou justificativa que explique essa falta de compaixão.
Por outro lado, Deus me deu aqui dentro, pessoas amáveis: médicos, enfermeiros, terapeutas, apoios, serventes, etc. além dos pacientes que às vezes metiam medo, mas na maioria das vezes me divertiam muito.
Cantei muito aqui, dancei muito também. Descobri que a música e a dança podem sim curar uma mente triste, ou pelo menos ajudar a curar. Percebo que a partir de hoje minha vida recomeça. Os médicos serão uma constante, pois sem eles eu ficarei refém de quem não me quer bem.
Acredito que estou pronta para amar, pois o amor pode e vai me ajudar a ser feliz. Estou com muita fé no Hospital-Dia e quero fazer desse convívio, não apenas a ajuda para me manter estável com a bipolaridade, mas também, para poder ajudar outras pessoas que precisam de auxilio, seja por qual doença mental.
Agradeço a Deus a oportunidade que me foi dada de crescer e aprender que somente eu posso impedir novas internações e isso se dará levando meu tratamento a sério.
Marta Mascarenhas
Administradora
Salvador, 04 de outubro de 2012.